April 2, 2020

O pássaro de duas cabeças do Himalaia e a interligação visceral entre a economia e a saúde

Por Felipe Guarnieri

Está lá, na Doutrina de Buda, conta ela que havia no Himalaia um pássaro de duas cabeças. Uma das cabeças ao ver a outra comendo um fruto doce e saboroso ficou com inveja e disse a ela, "pois bem, agora vou comer uma fruta venenosa"; e assim... ...o pássaro inteiro morreu...

Há uma falsa dicotomia entre saúde e economia, a grande verdade é que os melhores índices de saúde em qualquer geografia que se escolha (bairro, cidade, estado/ província ou país) estão ligados a lugares ricos; quanto maior a pobreza de um lugar, menor é expectativa de vida e a mortalidade infantil

Não é exagero afirmar que empresários que criam riquezas fazem mais pela saúde pública do que qualquer político.

1 - É a riqueza gerada por um país que permite a existência de saneamento básico (uma dos fatores mais impactantes no controle de doenças e também de mortalidade infantil)

2 - É o agronegócio e sua alta produtividade que permite a existência de comida barata na mesa do pobre, garantindo uma nutrição adequada que leva a uma saúde e um sistema imunológico forte

3 - São os empregos bem remunerados criado pelo empresário que permite às pessoas terem acesso a médicos e enfermeiros qualificados, a exames e a infraestrutura hospitalar de ponta (seja pagando diretamente a estes profissionais, seja recolhendo mais imposto que será então usado pelo governo para pagar estes profissionais e a infraestrutura)

4 - São as empresas farmacêuticas que podem fabricar vacinas e remédios em larga escala a um custo baixo que garante a prevenção e cura de nossas doenças

Se a cadeia de geração de riqueza se quebra num país onde temos mais de 90% dos profissionais da iniciativa privada trabalham em pequenas e médias empresas, toda uma sequência de eventos catastróficos acontece, o sujeito perde a renda, não se alimenta direito, não paga as contas, perde saúde, e pode morrer

Quanto mais efetivo o lockdown, mais pessoas serão salvas do COVID-19; quanto mais efetivo for o lockdown, mais pobreza será gerada e pobreza... ...mata, e mata mais do que a COVID-19

O balanceamento ideal entre um e outro é a questão chave. Temos exemplos excelentes de países como a Coreia e o Japão que não pararam completamente. Na Coreia a contaminação está controlada e a mortalidade é inferior a 0,7% (um pequeno truque estatístico aqui, a Coreia está testando, testando e testando, assim está descobrindo que há mais gente infectada e na hora que o "denominador" aumenta, descobrimos que talvez o vírus não seja tão mortal assim, os 10% de mortes na Itália podem ser um efeito aparente de poucos testes). Temos algo a aprender com os coreanos.

Não existe uma questão de "um ou outro", isto é uma falsa dicotomia. É impossível pensar em uma coisa deixando a outra de lado.

Assim, reuni dados de 225 países do mundo e olhei qual o PIB per capita em dólares PPP (paridade de poder de compra) como medida de criação de riquezas e a expectativa de vida, que julgamos englobar o resultado de políticas sanitárias, qualidade da saúde, número de médicos por habitante, qualidade da nutrição, acesso a remédios etc. .

O resultado é bastante significativo (R² = 0,631); a conclusão é que se quisermos ver pessoas vivendo mais, precisamos garantir uma economia forte e produtiva; ela traz o acesso aos recursos de saúde de ponta (sejam nutricionais, médicos ou de saneamento) e assim, toda medida contra o COVID-19 não deve ser vista de maneira segregada, mas sim integrada

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